sexta-feira, 19 de abril de 2013

O QUE HÁ EM "RECURSOS HUMANOS"

Expressão que denomina setor administrativo reflete visão sobre as relações no ambiente de trabalho

Luis Adonis Valente Correia


 
A área de Recursos Humanos quer novo nome. Alega que recursos são haveres, algo que se possui. Para os "entendidos", não se pode possuir pessoas. No meio organizacional, "recursos humanos" não implica posse, mas a capacidade da qual se dispõe. O modo pelo qual se emprega (duplo sentido) essa capacidade define a gestão de sua liderança.

De todo modo, a ladainha continua: não se pode possuir pessoas. "Recursos" pode não ser adequada. Mas por que a ânsia? A cerimônia de batismo não assegura a vontade da empresa nem a eficácia das políticas organizacionais.
O que há em um nome é o espaço vazio, em que escolhemos e nos empenhamos em fazer, criar, marcar períodos. Por acaso o leitor já ouviu em roda de mães e pais comentarem com orgulho o nome dos filhos? "Ele tem um que se chama Epaminondas. Puxa, 11 letras!". "Ela tem uma filha Renata. Oh! Três consoantes e três vogais!".
Até hoje há apresentações de RH, para RH e outras platéias, que se referem à árvore genealógica da área. Abordando o aspecto legal, jurídico, de direitos trabalhistas, acabavam por definir, quase sem comprovação de DNA, o órgão de pessoal, tantas vezes departamento, o famoso DP, como pai. Não é raro encontrar empresas em que as atribuições de RH e DP se misturam.
Recusar a "origem" para ganhar identidade própria era uma alternativa. Não tendo conseguido retirar DP do sobrenome de RH, os profissionais tentam mudar o nome RH. Mas por que aceitar a falsa paternidade? As áreas são diferentes em seus papéis organizacionais. Aliás, em termos de papéis, o DP tinha mais.

O que há no nome

Montecchio e Capuleto não são consultores, muito menos associados, mas ao consultá-los recebi a sabedoria de Julieta: "O que existe em um nome? Aquilo que chamamos rosa com outro nome bem diverso exalaria o mesmo perfume?". Well, uma rosa é uma rosa é uma rosa. A experiência da jovem, lingüística e de vida, permite aprofundar a questão.
O nome de um ser, aquilo pelo qual os ascendentes o prendem, seria parte de um corpo? Em princípio não, mas muitas vezes retorna para lembrar sua origem. Deve-se fazer da origem um ponto de transição. Saber deixar sua origem, tê-la entendido o suficiente para abandoná-la. Sem ponto de transição consolidado, corre-se o risco de ressurgimento, assombração que não se quer e afugenta o ideal de inovação.
As empresas, ansiosas por nova denominação para RH, exageraram. Algumas mudaram o nome da área para "Seres Humanos". Imagino o recrutamento: "Procura-se gerente de seres humanos. De preferência da mesma espécie". Somos humanos ou não? Onde a área começa? O que a distingue? Será que a expressão "cada macaco no seu galho" surgiu na descrição de cargos em alguma ONG ambiental?! Há outras situações. Em congressos, perguntam: "Como se chama a área de RH na sua empresa?". Não se sabe mais se RH agora é nome ou apelido.
O nome, como origem ou ascendência, tem materialidade. É um segundo corpo que nos reveste, como hábito e habitat. Mas mudar de lugar é mais do que mudar de nome ou de corpo. É metamorfosear laços, linguagem, não permanecer na verdade vazia que afirma o nome ser tudo. Mudar realmente a área de RH é expor mudanças intrínsecas, contemplar o novo e estabelecer o espaço em que se transmite o não sabido, o involuntário, a inovação.
Esse novo batismo, para agnósticos, crentes e tementes, não é prioritário nem garante coisa alguma. Denominar a área em questão de "recurso" não menospreza nem ignora o potencial da organização, que reside nas pessoas que a compõem. A prática diária - pautada pela honestidade, oportunidades de desenvolvimento reais e respeito pela individualidade - traduz apropriadamente a gestão.

 
FONTE: REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA

Nenhum comentário:

Postar um comentário