No post anterior, enumerei os principais filmes que levaram importantes premiações (Oscars, Emmys) e continham personagens homossexuais enquanto protagonistas. Nesse texto, coloco outros exemplos com propósito diferente: apresentar a perspectiva do cinema sobre a juventude gay e, principalmente, a saída do armário.
Fora do glamour do tapete vermelho, muitos filmes com temática LGBT rodam os circuitos mundiais, tanto os mais famosos como Cannes ou Berlim quanto aqueles focados apenas no tema gay. Ainda que muitos não sejam longas-metragens maravilhosos, que tocam os corações e mudam pontos de vistas, são filmes interessantes por mostrar aspectos diferentes da vida de um gay. Desde a descoberta até o anúncio à família, passando pelos primeiros beijos e amores, muitas películas apresentam as graças e dramas do processo.
Começando pelas descobertas na adolescência, temos vários exemplos do quão difícil, mas ao mesmo tempo libertador é a saída do armário. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), representante brasileiro no Oscar de 2015, é leve e adiciona um fator ainda mais difícil para o protagonista: o fato de ser cego. O argumento de que o amor é cego é literal na história, colocando o protagonista Leo na descoberta de seu sentimento pelo amigo Gabriel. O filme surgiu após o curta metragem de roteiro semelhante do próprio diretor e foi sucesso de crítica no Brasil e no exterior, pela leveza, humor e sensibilidade que é tratado o tema. Semelhante, temos Saindo do Armário (1998), filme inglês que coloca dois colegas de escola na descoberta da sexualidade. O filme é engraçado, mas não hesita em mostrar o sofrimento do protagonista em não ter o amor correspondido plenamente pelo seu companheiro. O título em inglês (Get Real) se refere ao título de um texto que o protagonista escreve para denunciar as práticas homofóbicas e bullying que acontecem na escola. O final, ainda que seco e precipitado, mostra a realidade de muitos adolescentes gays no mundo.
Muito parecido no roteiro (o que me faz pensar se não foi plágio) é Geography Club(2013), que coloca basicamente a mesma história: jovem encontra jovem, mas o amor e vontade em sair do armário não são correspondidos. Este último não consegue ser tão bem sucedido quanto a versão inglesa, mas pode ajudar jovens na situação em que se encontra o protagonista a se assumirem. Fico pensando se não foi essa a ideia dos produtores ao criar esse filme auto-ajuda.
Outro representante americano com essa finalidade é Date and Switch (2014), ainda pior que o anterior, mas com mesma pegada de ajudar meninos e meninas a saírem do armário. Aqui o foco é na relação de amizade entre dois melhores amigos quando um deles assume a sexualidade e o outro não consegue lidar muito bem com a novidade. Talvez seja o filme ideal caso você tenha 16 anos e queira desesperadamente contar para alguém que é gay. Ainda que não seja a melhor escolha de filme, a história mostra que a amizade não pode ser abalada por uma pessoa decidir ser quem ela é de fato.
Os representantes europeus do gênero gay teen são Jongens (2014) eSommersturm (2004). O primeiro, um filme para TV holandês, conta a história de dois meninos que treinam corrida e se apaixonam um pelo outro de maneira rápida. O diferente do longa é a rapidez na qual o primeiro beijo dos dois acontece. Isso me faz pensar nas diferenças entre as culturas brasileiras e holandesas no que diz respeito à liberdade e possibilidade de exprimir seus verdadeiros sentimentos. Ainda que haja um certo questionamento do protagonista sobre o que sente, sua iniciativa de experimentar o beijo gay foi surpreendente. Já o filme sueco Sommersturm também coloca o ambiente desportivo como pano de fundo para o aflorar dos sentimentos do protagonista. Inicialmente vemos um personagem apaixonado pelo melhor amigo, que não tem certeza do que sente e se vê sem saída quando o amado começa a namorar uma garota. É a partir de uma experiência com integrantes de outro time (literalmente) que ele consegue se expressar e assumir não apenas sua sexualidade, mas também seu amor pelo amigo. Ainda que o holandês seja mais bem feito, o sueco é interessante principalmente pela sutileza de sua última cena, que mostra o protagonista diante de sua casa ansiando pela novidade que tem para contar.
Talvez o mais polêmico de todos os filmes que ligam a adolescência à homossexualidade, nos últimos anos, tenha sido Azul É a Cor Mais Quente(2013). Com quase 3 horas de duração, o filme acompanha a vida de Adèle, desde o momento que descobre a atração por mulheres durante o colegial até a vida adulta. O destaque do filme é a incrível química em cena entre a protagonista e sua amante, explorada à exaustão com cenas de sexo explícito. Para além das quatro paredes, o filme é lindo ao mostrar o desafio que é para Adèle se ver como lésbica, já que não possui trejeitos ou "tipo" específico. Ainda assim, vemos o quão é sofrido para as duas quando o peso do relacionamento chega e as coloca em lados opostos.
FONTE: http://www.brasilpost.com.br/bruno-mafra/buscando-coragem-para-se-assumir_b_5909076.html
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