segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O SENTIMENTO DE INVEJA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

João Paulo Rieg[1] 
Orientador: Prof. Samayk Henrique Ferro da Silva[2]

Resumo:
Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, as organizações caminham em busca de novas ferramentas e metodologias para alcançar suas metas. Entretanto, o capital intelectual, aquele que proporciona uma vantagem competitiva, continua sendo uma grande preocupação. Menos o sentimento de inveja que, segue negligenciado pela maioria dos especialistas e pensadores em Gestão de Pessoas. Este artigo foi desenvolvido com o objetivo de verificar a “inveja nas relações de trabalho”, sentimento que acompanha a história da humanidade desde o inicio da criação até os dias atuais. Além de observar como esses “desejos ocultos” podem afetar a qualidade de vida no trabalho, como a motivação por exemplo, e analisar como as equipes podem se destruir negligenciando a busca de seus objetivos e do crescimento profissional.
Palavra-chave: Inveja. Relações de trabalho. Gestão de Pessoas.

1. INTRODUÇÃO

“Eu não tenho inveja de ninguém/
nem ambiciono o que os outros têm”.
(Zé da Zilda & Zilda do Zé – Inveja – 1959)

O interessante nessa epígrafe é demonstrar que os compositores ao dizer não, estão querendo dizer sim. Ou seja, ao afirmar que não sentem inveja, eles expressam, sim, aquilo que já foi descrito como o menos nobre dos sentimentos. Isso é perfeito porque a inveja, uma dimensão muitas vezes esquecida ou pouco valorizada, pode ser útil aos indivíduos e, com certeza, mente quem diz que nunca a sentiu. Atualmente, algumas críticas, ou simples comentários sobre uma suposta superficialidade nas redes sociais, tais como, “parece que as pessoas são todas felizes no Facebook” e “só há vida artificial no Instagram”, apontam para o fato de que muita gente está se deixando morder pela inveja.
Não cabe ficar aqui medindo a felicidade ou infelicidade alheia. Isso porque, em maior ou menor intensidade, ninguém está livre da inveja. E isso não acontece porque somos pessoas más. “Os estímulos do ambiente refletem no cérebro e essa atividade cerebral provoca a inveja. Há uma base neurológica constituída para isso”, afirma Márcia Chaves, chefe do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre/RS[3]. E, segundo confirmou a pesquisa, existe mesmo a inveja boa e a inveja má. O que não é normal é se sentir infeliz porque alguém conseguiu um namorado, porque o outro mudou de emprego, foi promovido, e/ou sei lá quem está participando do Ironman.
Esse trabalho versará sobre alguns pontos que refletem o sentimento da inveja nas relações de trabalho. Analisar alguns fatores que propiciam o seu surgimento, como isso pode prejudicar a organização e quando pode ser construtivo. A inveja aparece nas organizações de pequeno e de grande porte. Porém essa realidade do comportamento humano é, poucas vezes, comentada ou discutida no ambiente de trabalho, no entanto, o tipo invejoso é uma presença indelével nas organizações. Embora, para o dirigente seja difícil admitir, o comportamento de inveja é um fenômeno real no relacionamento entre pessoas nas organizações.

Os conceitos pesquisados geralmente apontavam para “o desejo por atributos, posses, status, habilidades de outras pessoas. A inveja não é necessariamente ligada a um objeto: sua característica mais típica é a comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra[4]”. Em outras palavras a inveja deriva de um desequilíbrio entre o eu e os outros, quando se entra em um processo comparativo. Invejar é vivenciar um sentimento em forma de tristeza, de frustração e de mal-estar por se sentir menor do que os outros, por não possuir o que o outro possui ou por não ser o que o outro é.


A inveja aparece na religião católica como um dos “Sete Pecados Capitais”. Um pecado porque a inveja faz com que as pessoas ignorem suas próprias bênçãos e priorizem o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento espiritual. Por outro lado, a inveja também é chamada, popularmente, de “olho gordo”. Desde pequenos ouvimos que não devemos contar algo de bom que está para acontecer para outras pessoas porque elas podem por o “olho gordo” (olho que faz mal, atrapalha, prejudica). Este “olho gordo” é a inveja das pessoas que, ao saberem que o outro vai conquistar algo de bom e por não terem esse privilégio, acabam invejando e transmitindo vibrações negativas. Muita gente acredita que essas vibrações podem fazer com que aquilo que estava para acontecer não se realize.

2. A INVEJA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Segundo as tradições bíblicas, as piores traições sempre vêm daqueles em quem mais confiamos, e a primeira notícia sobre a inveja teria sido protagonizada por um anjo. Considerado por Deus o ser mais iluminado no Universo, Lúcifer, que significa, em latim, o “portador da luz”, começou a sentir inveja de Cristo, questionando-se sobre a posição deste. Revoltado contra a autoridade do Criador, Lúcifer e sua horda de anjos, macularam o Céu com seu egoísmo e desejo de poder. Assim, a inveja foi detectada pela primeira vez, e Lúcifer foi transformado no anjo das trevas e expulso do paraíso celestial.

Todos os seres humanos sofrem ou já sofreram de inveja. As pessoas dificilmente assumem sua inveja por ser considerada um sentimento ruim que, na maioria das vezes, pode acabar causando prejuízos aos outros e principalmente às próprias pessoas que nutrem esse sentimento. Os invejosos têm vergonha de assumir a inveja porque invejar alguém significa o mesmo que assumir o seu fracasso, a sua incapacidade de possuir o que outro conquistou por méritos próprios. E como as pessoas em geral não assumem os seus fracassos, acabam também por não assumir a sua inveja.

O sociólogo Helmut Schoeck (PICCININI et al., 2011, p. 182)[5] afirma que o conceito de inveja “foi muito reprimido nas Ciências Sociais e na filosofia moral desde o começo deste século, provavelmente pela dificuldade de admitir sua existência nas sociedades”. Segundo a tese de Schoeck[6], a inveja exerce um papel muito importante em todas as sociedades, já que ocorrem crimes devido à inveja, há políticas baseadas na inveja, instituições designadas para regulamentar a inveja e árduos argumentos no sentido de motivar os indivíduos a fazer o possível e o impossível para evitar serem invejados.

Dentro de uma organização essas atitudes podem ser muito prejudiciais, como, por exemplo, quando uma pessoa resolve sabotar, ou se vingar de outra por invejá-la, por não possuir o cargo que a outra tem ou por ganhar menos que a outra. Dessa forma a organização se prejudica porque ela passa a ter menor rendimento de seus funcionários, começa a haver muita intriga e o mal-estar toma conta do ambiente de trabalho, e assim, o trabalho rende menos.

2.1. Que fatores estão ligados a inveja?
           
“Quando um dos meus amigos tem sucesso, alguma coisa em mim se apaga”
(Gore Vidal)

Na História da humanidade a inveja teve um importante papel. Desejar o que o outro conseguia era um indicativo de quanto seria possível conquistar em determinado ambiente. Esse componente estimulava a competição, que serviu para o desenvolvimento da espécie. Segundo a tradição aristotélica, a inveja é consequência da semelhança e da proximidade dos indivíduos. Está relacionada à ambição e surge da comparação.

Esse sentimento também se relaciona com a escassez. A ausência de condições básicas para a sobrevivência, a necessidade de status através dos bens e as virtudes humanas são fatores que geram inveja.  Especialmente, se ao tomarmos conhecimento dessa escassez, percebemos o fato de que os bens ou as qualidades estão na posse de outros e não em nossa posse.

A inveja também está relacionada com a injustiça. Isso acontece porque o conceito de justiça é diverso entre os indivíduos, o que gera um caráter moral de ressentimento sobre condições de desigualdade entre os indivíduos. Esse ressentimento moral se transforma em inveja quando as pessoas ficam ressentidas de ter menos que as outras.
           
A inveja é universal, porém somente em alguns poucos tal sentimento se converte em atos agressivos, capazes de levar o sentimento à ação. Não se pode evitar que as pessoas invejem, porque seria uma intervenção contra a condição humana. O que se pode fazer é operar com aquela porção de indivíduos em quem esse sentimento converte-se em ações concretas capazes de prejudicar outras pessoas.




Todos esses fatores citados acima, a ambição, a escassez, a injustiça e a agressividade estão ligados a inveja e quando ferem de alguma forma outra pessoa, um grupo ou uma organização pode ser considerado um comportamento nocivo ou até antiético. Ao desconsiderar a inveja nas organizações os gestores podem estar omitindo a presença de um sentimento que pode levar a improdutividade e até a fatores internos destrutivos. A inveja evidencia conflitos que podem ou não ser manifesto, mas que está presente nas relações entre as pessoas de um modo geral.

2.2. Desejos ocultos
  O escritor Zuenir Ventura autor do livro “Inveja – Mal Secreto” (1998, p. 11), justificou da seguinte forma sua escolha pelo tema: “A inveja é um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes. O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde”. O mais abominado dos sete pecados capitais é o sentimento mais conhecido e também o mais difícil de ser admitido, ou seja, todos são invejados, mas ninguém admite invejar. O IBOPE[7] confirma esta afirmação em uma pesquisa onde, 73% dos brasileiros sabem o que é inveja, mas 84% afirmam não ter cometido este pecado. 

Como observado, a inveja é um sentimento intrínseco às pessoas e, quase sempre, confundida com o ciúme e a cobiça. Segundo o Dicionário Informal[8] as diferenças estão apontadas em suas definições:

                                                
Ciúme: “sinto ciúmes do que é meu, se eu emprestar pode voltar estragado... isso SE voltar...”. Cobiça: “pessoas que deseja coisas além das suas condições financeiras”. Inveja: “ficar desejando as coisas dos outros e não fazer força nenhuma para conseguir naturalmente e por merecimento”.
A inveja também é repetidamente confundida com outro pecado capital, a avareza, definida como um desejo por riqueza material que pode ou não pertencer a outrem. Dos sete pecados capitais a inveja é o sentimento mais oculto, pois sendo revelado, o alvo poderá impedir que este interferisse em sua vida. 

2.3. Máscaras e tipos de inveja
A inveja aproxima-se camuflada através de diversas máscaras. O escritor Flávio Gikovate escreveu “[...] A inveja deriva da admiração. Logo, a manifestação invejosa corresponde a uma forma sutil de elogio[9]”. 



Já a palavra máscara é uma abordagem da psicologia e Henri Pieron, no seu dicionário de psicologia[10], vai buscar em Jung (1923) a sua explicação. Segundo o pessoal do Grupo Papeando, é a máscara que “simula a individualidade e dá, tanto aos outros como a si próprio, a ilusão da individualidade, embora só se trate de uma máscara de ‘psique coletiva’ que representa um papel”. 
Mas o tempo derruba as máscaras, revelando as mentiras, apresentando o verdadeiro caráter do invejoso. Este processo é doloroso, pois fere o orgulho do invejoso admitindo sua verdadeira face.
 Quanto aos tipos de inveja não existe uma unanimidade. Alguns autores consideram existir quatro, outros cinco.
A autora Tomei, Patrícia Amélia (1994, p. 6-8), cita três tipos de inveja:

A inveja sublimada: inclui indivíduos que sentem inveja, mas conseguem superar esse sentimento, utilizando-o para o seu próprio crescimento. Tais indivíduos admitem as qualidades do seu objeto de inveja e buscam se superar para alcançar os seus objetivos.  A inveja neurótica: nesta categoria estão os indivíduos que sentem inveja e sofrem com isso, sem fazer nada para mudar suas atitudes, mas que não são necessariamente pessoas más. Diríamos que ele é a principal vítima de sua inveja.  A inveja perversa: Esse tipo se mostra ostensivamente invejoso. Ele vive para bloquear todas as expressões de criatividade, de beleza ou de talento que apareçam em sua frente. 
Olhando com atenção, observamos uma pluralidade de sensações, faces ou máscaras envolvidas no sentimento da inveja.

2.4. Que fatores podem induzir a inveja em nível organizacional?

A manifestação da inveja mais comum nas organizações ocorre entre as relações interpessoais. Quer seja a estabelecida com o poder formal, ou com a formação de grupos de trabalho, equipes dentro das empresas. Enfim, entre pessoas que possuem bastante contato diariamente.

A inveja se dá pela comparação que fazemos de nós mesmos com os outros. A partir do momento em que começamos a nos comparar com os nossos colegas de trabalho, com os chefes e percebemos que determinada pessoa tem um salário melhor que o seu, ou é mais querida pelas outras pessoas do que você, ou que o trabalho do outro é mais elogiado que o seu, surge o sentimento da inveja. Quando esse sentimento começa a tomar conta dos trabalhadores eles passam a render menos dentro da organização e acabam por prejudicá-la. Isso sem falar nas situações em que os trabalhadores começam a sonegar informações, provocando danos aos outros e ao trabalho em si.




Existem, também, métodos de motivação que são frequentemente utilizados pelas empresas, mas que não atingem os seus objetivos por causarem inveja em seus empregados como, por exemplo, quando a empresa resolve premiar os funcionários por atingir metas de produção. Os trabalhadores que conseguem atingir as metas passam a ser invejados pelos demais que não conseguiram atingir o prêmio e esses acabam se desmotivando e se sentindo incapazes e inferiores do que os outros.

O mesmo sentimento de desmotivação acontece quando um funcionário que conseguiu atingir a meta recebe o prêmio em determinado mês e no mês seguinte não consegue, dessa forma, ele poderá desenvolver o sentimento de inveja em relação aos seus colegas de trabalho que conseguiram atingir a meta por meses consecutivos. Neste sentido, este colaborador se sentinrá inferior à eles, contaminando os outros servidores com sua inveja e causando sérios prejuízos às organizações.  Portanto, o que era pra ser um método de motivação de funcionários acabou se tornando um transtorno para a mesma.

2.5. Como a inveja pode prejudicar a organização?   
           
As pessoas costumam apresentar mecanismos de defesa contra esse tipo de sentimento, e se essas atitudes na gestão organizacional não forem discutidas, analisadas e trabalhadas podem comprometer o ambiente de trabalho. A inveja é fonte geradora de conflitos, podendo causar desentendimentos e desavenças.  O surgimento desta, dentro da organização, pode ser responsável pelo fim de boas equipes, pois gera desconfiança entre os indivíduos e até mesmo sabotagem.



Logan (2008), citado por Araújo et al. (2014), é um dos autores cujo trabalho confirma essa afirmação. Esse autor trata a inveja como um sentimento perverso. Ele destaca as dinâmicas que geram destruição e dominação, causando um desconforto intenso.

Em casos extremos, o estrago pode ser grande. A começar pela perda de tempo: quando as pessoas estão sentindo inveja, não estão trabalhando ou pensando no que é melhor para si e para a empresa. Há quem arquive um bom projeto só para impedir que alguém brilhe por ter boas ideias e iniciativa. Sem falar na perda de profissionais talentosos, que, em geral, não duram muito em ambientes contaminados pela inveja.

E os prejuízos continuam. Quem sente inveja pode se tornar, rapidamente, uma pessoa amarga no trabalho. A carreira passa para segundo plano, a produtividade cai, as boas ideias desaparecem, a angústia e a ansiedade tomam conta do coração e da cabeça. Numa dessas, a carreira do invejoso pode ir para o brejo. E por culpa dele mesmo. Aquele que é invejado, por sua vez, pode ser vítima de sabotagens e não raro acaba “entrando em crise”. Ou seja, invejar ou ser invejado é uma pedra no caminho. Entretanto, deixar de sentir inveja é praticamente impossível, ao menos dá para transformá-la em estímulo.

2.6. A inveja e o assédio moral
A inveja pode levar ao assédio moral, que consiste na prática de comportamento abusivo, humilhações, constrangimentos, ironias, isolamento e tortura psicológica no local de trabalho.
De acordo com Guimarães e Rimoli (2006, p. 187), citados por Campos (2012, p. 4), existem três tipos de assédio moral:

Vertical Ascendente: “uma pessoa que pertence a um nível hierárquico superior da organização se vê agredida por um ou vários subordinados”.
Horizontal: “um trabalhador se vê assediado por um companheiro do mesmo nível hierárquico”.
Vertical Descendente: “situação mais habitual... comportamento no qual a pessoa que detém o poder, por meio de depreciação, falsas acusações, insultos e ofensas, mina a esfera psicológica do trabalhador assediado para se destacar frente a seus subordinados”.
O assediante não suporta habitar o mesmo espaço com outro individuo mais brilhante e bem-sucedido. Portanto, o que estimula a inveja não é somente o dinheiro, o imóvel, o automóvel que o invejado possui, pois, às vezes, o invejoso tem muito mais que sua vítima, o que ocasiona a inveja é o brilho do outro. Brilho que ofusca! Desta forma, o assédio moral no trabalho provoca desmotivação, medo e afeta a produtividade.

2.7. A inveja e a qualidade de vida no trabalho
A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) visa à mudança e a condição humana nas organizações. A melhoria da QVT deve ser contínua assim como seus processos. Por sua vez, a inveja possui consequências negativas para a saúde do trabalhador prejudicando seu desempenho e produtividade na instituição.
O comportamento de pessoas invejosas afeta diretamente a organização, pois, prejudicando um colaborador, estas pessoas prejudicam o desenvolvimento da organização e criam um clima organizacional de instabilidade em toda uma equipe. Assim, é necessário que os gestores façam o diagnóstico e tratem essa enfermidade, para que a qualidade, produtividade, e principalmente o clima organizacional, não sejam afetados.

2.8. A inveja e a motivação no trabalho

            A existência da inveja no local de trabalho pode proporcionar um impulso motivacional, desde que não ocorra deslealdade e o resultado seja alcançar patamares elevados pelo seu próprio merecimento. Essa ligação pode ser positiva para o desenvolvimento das organizações e dos próprios trabalhadores. Mas, em estágios muito desenvolvidos, poderá criar prejuízos às equipes.
          
O genuíno estímulo motivacional dos funcionários não está em fatores externos e sim em aspectos internos, superando com dedicação, criatividade e engajamento. Se a motivação parte de cada indivíduo, a inveja incentiva o trabalhador na concorrência no ambiente de trabalho.

            Quando a inveja parte do chefe para os colaboradores pode-se concluir que se trata de um profissional medíocre que não suporta a competência e o talento dos seus subordinados.         Paolo Mantegazza, neurologista, fisiologista e antropólogo italiano, fez a seguinte referência em relação a inveja: “A inveja nada mais é que o ódio à superioridade[11]”.
           
Segundo o consultor Eduardo Ferraz e os professores José Ramon Pin e Guido Stein[12], da IESE Business School, são três sinais facilmente identificados nos chefes invejosos: descrédito, exclusão e sabotagem (PATI, 2015[13]).
          
O descrédito se refere ao menosprezo às ideias do invejado, e, mais adiante, apresentá-las como se fossem suas. Os colaboradores perdem a confiança no chefe, e, este passa a ser motivo de piada na instituição. O segundo sinal, a exclusão, caracteriza-se quando o colaborador é privado de informações ou participações em reuniões importantes. A ação que visa prejudicar o trabalho de alguém também é muito utilizada por chefes incompetentes, passando tarefas complexas sem estrutura para a obtenção de êxito. Assim, o chefe promove a sabotagem, e no final do prazo, aparece com uma solução para obter todos os créditos.

Quando a inveja vem do nível hierárquico superior, a situação fica complicada, pois este chefe não permitirá a ascensão do invejado. A insegurança, a incompetência e a falta de caráter do invejoso não permitirão o desenvolvimento deste profissional na empresa. Assim, se desenhará uma trajetória de derrota, não do invejado, mas da organização como um todo.

Por fim, em Alguns casos podemos considerar a inveja como um fator construtivo a partir da visão ou o reconhecimento dos bens, posses e qualidades de uma outra pessoa ou grupo desperta no outro o desejo de adquirir o mesmo para si por meio de um esforço baseado em seu próprio mérito. Essa identificação com as conquistas de seus semelhantes desperta uma face da competitividade, onde surge o desejo de excelência em relação aos outros, de provar aos outros (e a nós mesmos) que também somos capazes.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ser conhecida, a presença da inveja dentro das organizações ainda é tratada como tabu na maioria delas, sendo negada sua existência pela típica frase: não temos esse tipo de problema aqui. Contudo, é interessante observar que salvo os casos extremos e destrutivos, a inveja pode não ser tão terrível como consta no nosso imaginário. Admitindo-se sua existência, conscientizando-se de seus efeitos perigosos e, por fim, tomando medidas para gerenciá-la é possível, até mesmo, transformar este sentimento em estímulo e benefício em nível individual e coletivo.

A inveja é fruto da comparação, então é a partir daí que devemos trabalhar esse sentimento, um bom começo é desenvolvermos a prática da autocomparação, a comparação conosco mesmos, hábito já utilizado pelos ocupantes de cargos de alto nível dentro das organizações.

Cada pessoa tem o seu ritmo, o seu jeito, o seu caminho, o seu próprio nível, não estamos no mundo para sermos mais do que alguém, mas apenas para realizar o nosso próprio potencial, para sermos cada vez mais, cada vez melhores, comparados conosco mesmos. Desta maneira, o outro deixa de ser um referencial, um alvo potencial de inveja, consequentemente ocorre uma diminuição em atitudes de má fé, falta de ética e armações, tornando o ambiente e as relações mais saudáveis e barrando atitudes que possam interferir negativamente no crescimento da empresa.
           
Uma maneira que podemos utilizar para transformar a inveja em um sentimento construtivo, e por consequência torná-la também construtiva para a organização, é trabalhar esse sentimento fazendo com que o trabalhador queira adquirir para si as qualidades, bens e posses que admira nos outros, através de seu próprio esforço. Nesta situação não existe uma relação negativa em relação ao objeto da inveja; ao contrário, ele torna-se um modelo a ser seguido, uma espécie de exemplo. Isso estimula dentro da organização a ambição e a competição saudável, os indivíduos observam nos outros algo capaz de despertar seu interesse, mas não são tomados pelo sentimento da inveja, mas sim, por uma admiração capaz de impulsionar-lhes na busca do mesmo.

O crescimento pessoal, muitas vezes, se reflete em um crescimento profissional que, consequentemente beneficia a organização. Exemplo disso é quando um funcionário admira o conhecimento ou habilidade de um colega em determinada tarefa, tornando-se para ele uma referência capaz de motivá-lo a qualificar-se. Seu enriquecimento pessoal vai se refletir também no âmbito profissional, o que acaba por favorecer a empresa que agora possui dois funcionários com tal instrução.
             
Também se percebe que muitas organizações se utilizam de ações sutis de conteúdo invejoso como uma forma de controle sobre os membros da organização, por exemplo: estruturas organizacionais fechadas; uso de modelos autoritários; facilidade de privilégios para poucos; politização na distribuição de recursos e, muitas vezes, o uso de mentiras e boatos.

Em suma, percebe-se que a organização que possui uma gestão competente e que permeia as suas ações apoiada numa ética de responsabilidade é capaz de reduzir os fatores de indução da inveja através de estratégias como: mudança nos modelos de gestão, diminuição dos níveis hierárquicos, programas de recursos humanos que instrumentalizem práticas de valores éticos, de responsabilidade social. Esses fatores, colocados em prática, podem facilitar um clima de excelência pessoal e organizacional, no qual os comportamentos de inveja sejam controlados e gerenciados.

                                                            REFERÊNCIAS                 

 

ARAUJO, Richard Medeiros. NASCIMENTO, Thiago Cavalcante. BRITO, Lydia Maria Pinto. JUNIOR, Franklin Medeiros Galvão. Inveja em organizações públicas: reflexões introdutórias. Disponível em: <file:///D:/Dados/Downloads/Dialnet-InvejaEmOrganizacoesPublicas-5113453.pdf>. Acesso em 01/09/2017.

BLOG AROMAS DE GAIA. Inveja. Disponível em: <https://aromasdegaia.blogspot.com.br/2014/09/novidades-de-setembro.html>. Acesso em 28/05/2017.

CAMPOS, Izabel Carolina Martins. Assédio Moral no Serviço Público. 1ª edição, Florianópolis; Imprensa Oficial do estado de Santa Catarina, 2012.

DICIONÁRIO INFORMAL. Inveja. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/>. Acesso em 22/05/2107.

DOUGLAS, John Davis. O Novo Dicionário da Bíblia. 3ª edição, São Paulo; Editora Vida Nova, 2006.

GIKOVATE, Flávio. Pensando Bem. Disponível em: <http://blogdocarlossantos.com.br/pensando-bem-743/>. Acesso em 23/05/2017. 

GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães; RIMOLI, Adriana Odalia. "Mobbing" (assédio psicológico) no trabalho: uma síndrome psicossocial multidimensional. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, v. 22, n. 2, p. 183-192, maio/ago. 2006.  Disponível em: <file:///D:/Dados/Downloads/1101-4878-1-PB%20(1).pdf)>. Acesso em 25/05/2017.
      
MANTEGAZZA, Paolo. Frases para Pessoas invejosas. Disponível em: <https://www.pensador.com/frases_para_pessoas_invejosas/5/>. Acesso em 24/05/2017.

OLIVEIRA, Elisete Alice Zanpronio de. SANTOS, Michele Fernanda Schmidt dos. WEIMAR, Paulo Renato. RICIERI, Marilucia. Cultura Organizacional. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Editora e Distribuidora S.A., 2014, pág. 3.

PAPEANDO COM A PSICOLOGIA. A Fofoca Como Uma das Máscaras da inveja. Disponível em: < https://grupopapeando.wordpress.com/2011/06/27/a-fofoca-nossa-de-cada-dia-porque-as-pessoas-fofocam/>. Acesso em 24/05/2017

PATI, Camila. As Puxadas de Tapete Típicas de Chefes Invejosos e Ciumentos. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/as-puxadas-de-tapete-tipicas-de-chefes-invejosos-e-ciumentos/>. Acesso em 28/05/2017.

PICCININI, Valmíria Carolina. ALMEIDA, Marilis Lemos de. OLIVEIRA, Sidinei Rocha da. Sociologia e Administração: Relações sociais na administração. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2011.

REVISTA SUPERINTERESSANTE. Inveja. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/inveja/>. Acesso em 20/05/2017.

THEOPHILO, Roque. A Fofoca Como Uma das Máscaras da Inveja. Disponível em: <https://grupopapeando.wordpress.com/2011/06/27/a-fofoca-nossa-de-cada-dia-porque-as-pessoas-fofocam/#more-3249>. Acesso em 24/05/2017.  

TOMEI, Patricia Amélia. A Inveja nas Organizações. São Paulo: Makrom Books, 1994. Disponível em: <www.administradores.com.br/producao.../a-inveja-nas-organizacoes/811/download>. Acesso em 25/05/2017.

VENTURA, Zuenir. Inveja – Mal Secreto. Rio de Janeiro, Editora Objetiva LTDA, 1998.

  


[1] Formado em Gestão de Recursos Humanos, pela UNIASSELVI.
[2] Professor de Pós-graduação em Gestão de Pessoas da UNIASSELVI.
[5] https://books.google.com.br/books?id=LoULXUjeQIkC&pg=PT116&lpg=PT116&dq=o+sociologo+helmut+schoek+afirma+que+o+conceito+de+inveja&source=bl&ots=cJhsfiwIs7&sig=SJ69i7qEy1cA66MHyod3MGB2Zos&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwj0ob3EgcnVAhVGymMKHUFXCk8Q6AEIKTAA#v=onepage&q=o%20sociologo%20helmut%20schoek%20afirma%20que%20o%20conceito%20de%20inveja&f=false
[6] O cerne dessa discussão está no fato de que a inveja possui um destacado papel nas relações sociais e é um tema muito reprimido, pois não se encontram, de maneira geral, artigos ou discussões sobre o papel que ela possui nas organizações.
[7] Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (VENTURA, 1998).
[12] José Ramon Pin é doutor em Sociologia e professor de Gestão de Pessoas em Organizações, na University of Navarra, e Guido Stein é doutor em Filosofia e professor de Gestão de Pessoas em Organizações e de Unidade de Ensino de Negociação, da mesma universidade.

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