No início deste semestre, a escola de nossos filhos
mandou para casa uma lista de clubes extracurriculares disponíveis aos
estudantes. Meu marido sentou-se com a lista e nossos dois filhos que
frequentam a escola elementar. Eles poderiam escolher qualquer clube. Nosso
filho do meio, que está na 2ª série este ano e é um adorável nerd, escolheu o
clube de jogos de tabuleiro.
Nosso filho mais velho, hoje na
4ª série, escolheu Zumba. Quando tem a opção, ele geralmente escolhe esportes
antes de qualquer coisa, mas preferiu o exercício baseado em dança que é Zumba.
Ele adora cantar e dançar, por isso apenas encolhemos os ombros e dissemos
"Está bem, parece ótimo". Inscrevemos os garotos e todos ficamos
felizes.
Conforme o semestre avançava,
ambos desfrutavam seus clubes, mas a opção do mais velho quase sempre recebia a
mesma reação, algo como: "Ele é esperto. Aposto que é o único menino lá, e
pode escolher a garota que quiser".
A primeira vez que isso aconteceu
fiquei chocada, porque nunca tinha pensado dessa forma. Em nossa casa não
seguimos exatamente os papéis tradicionais de gênero. Meu marido é um pai que
fica em casa e faz todo o trabalho doméstico e cozinha; sou eu quem trabalha
fora de casa em tempo integral. Temos três filhos (mas o menor só começará a
escola no ano que vem), e o que eles querem fazer é simplesmente o que eles
querem fazer. Nós aceitamos. Não importa que não seja tradicionalmente
masculino. Apesar disso, nosso filho mais velho é um estereótipo de menino. Ele
adora esportes, videogames, ninjas. Nós consideramos cantar e dançar uma coisa
divertida para todo mundo. Em público, meu marido eu somos conhecidos por improvisar
números de canto e dança que costumam envergonhar nossos filhos.
"Quantos meninos estão na
Zumba?", perguntei ao meu garoto.
"Só eu", ele respondeu
sem hesitar.
"E isso o incomoda?"
"Não", disse ele com um
gesto de ombro. "É divertido."
E foi assim.
Mas aquela reação dos outros,
aquelas piscadelas marotas, continuavam acontecendo. E isso me incomodava. Meu
filho mais velho é gay. Sim, ele pode estar apenas na quarta série, mas é
identificado como gay desde o início da primeira. Ele não dá sinais de mudança.
Todos os nossos amigos próximos e parentes sabem que nosso filho é gay, mas
muitas pessoas com quem trabalhei ou que conhecíamos socialmente não tinham
ideia. E essa ideia de paquerador de meninas que eles tinham sobre meu filho me
incomodava.
Sim, eu sei que isso é meio
ridículo. Nos últimos anos, enfrentamos um bom número de reações chocadas pela
orientação de nosso filho. Também lidamos com a reação "Isso ainda está
acontecendo?" conforme os anos passaram. Mas nunca deixo de me incomodar
quando as pessoas automaticamente supõem que ele seja hétero. Fico tão
incomodada que comecei a corrigir as pessoas.
"Não", digo, "ele
não se interessa por meninas. Ele é gay. Ele diz que as garotas são suas
amigas."
Então veio a reação, e quase sempre a mesma: "É mesmo? Como ele pode saber isso? Ele é tão jovem..."
Então veio a reação, e quase sempre a mesma: "É mesmo? Como ele pode saber isso? Ele é tão jovem..."
Essas pessoas não viam a
contradição em suas palavras. Elas apenas supunham que meu filho tivesse
escolhido o clube de Zumba para que pudesse se aproximar e paquerar as meninas,
mas depois elas diziam que ele era jovem demais para saber que gosta de
meninos. Elas achavam que ele estaria atrás das meninas, o que significa que
supunham que ele já soubesse que era hétero, mas a ideia de que ele pudesse
saber que é gay parecia chocá-las.
Sim, pelos números, supor que as
pessoas são hétero é uma aposta mais segura. A maioria das pessoas é. Mas as
suposições são perigosas. Esta, em particular, implica para meu filho que há
algo errado no fato de ele não ser hétero. E não há. Ele deve ser exatamente
quem ele é.
Meu filho tem paixões, diversas.
Sua paixão mais longa e notável é por Blaine, do Glee, mas Blaine está sendo
rapidamente suplantado por Barry, de The Flash. Meu filho é romântico, adorável
e inocente. Mas quando as pessoas falam sobre ele e sua aula de Zumba não
parecem inocentes; parecem hipócritas. Mas depois elas ficam chocadas com a
ideia de ele saber que é gay. Como sua mãe, acho tudo isso realmente
frustrante.
Lembro-me de minha primeira
paixão. Era um amigo de um dos meus tios, que todos chamavam de "Big
Mike". Acho que eu tinha 6 ou 7 anos e o seguia por toda parte e o enchia
de perguntas; tenho a certeza de que era uma chata. Mas não era sexual. Eu
apenas sabia que queria estar perto dele e que ele prestasse atenção em mim.
Big Mike era um homem enorme com barba, do tipo lenhador -- e parecia muito com
o homem com quem eu me casaria depois, o pai dos meus filhos. Reconhecer as
semelhanças em retrospectiva me faz sorrir. Desde que fiz essa conexão, olhei
de uma nova maneira para meu filho, o modo como ele fica vermelho quando fala
de um menino de quem gosta. Ele está descobrindo do que gosta, assim como eu
fiz. Antes que os meninos gays tivessem a oportunidade de ser criados sem
homofobia e com pessoas gays em suas vidas, as paixões pelo mesmo gênero eram
algo que tinha de ser mantido em segredo. Meu filho não tem um segredo. Ele
apenas é.
Acho que é importante eu me
manifestar, corrigir as pessoas explicitamente quando elas assumem que meu
filho é hétero. Preciso dizer claramente: "Não, isso não descreve meu
filho".
Porque as crianças não se tornam
gays por mágica na puberdade. A orientação é algo mais profundo. É algo que não
tem a ver apenas com sexo, mas com atração e amor, e até amor adolescente. E é
lindo. Não há nada de errado em tudo isso.
FONTE: http://www.brasilpost.com.br/Amelia/meu-filho-de-10-anos-gosta-de-meninos_b_6347856.html
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