Interditada e com risco real de cair, ponte Hercílio Luz completa 86 anos neste domingo
Fernando Mendes/ND
Edson Murilo Prazres batalha para reativar o Memorial da Secretaria da Fazenda
GIOVANA KINDLEIN
Especial para o Notícias do Dia
@gikindlein
Houve um tempo em que a ponte Hercílio Luz tinha trânsito de veículos e até pedágio para ser trafegada. Do passado de glórias da maior ponte pênsil do Brasil só sobraram registros históricos, fotos e imagens em cartão postal. Há 21 anos, a passagem por ela está impedida. Interditada a última vez em 1991 e com obras de restauração orçadas em mais de R$ 170 milhões, a majestosa travessia sofre seus reveses ao completar 86 anos neste domingo, dia 13 de maio (foi inaugurada em 1926).
Melancólica será a comemoração de aniversário. Nesta data, 13 de maio de 2012, estava prevista, havia dois anos, a conclusão da reforma iniciada pelo Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura) e pelo CFM (Consórcio Florianópolis Monumento) em 2009. Com a lentidão e o atraso dos trabalhos, a entrega foi adiada pelos dois responsáveis para dezembro de 2014. Pelo menos, esta é a expectativa do presidente do Deinfra, Paulo Meller, “se houver disponibilidade financeira”. Para este ano está prevista uma injeção de R$ 64,4 milhões, provenientes de um projeto de captação de recursos do Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet.
Preocupados com a possibilidade de o monumento vir a ruir, diferentes setores da sociedade se unem para tentar reverter à inexorável ação do tempo e a longa falta de manutenção por mais de 60 anos de serviço ininterruptos. Um mesmo modo de pensar, uma só alma, um só sentimento pulsam no coração ilhéu. Exemplo deste amor é o poema escrito pelo aposentado Jurandir Dias, antes de morrer em 2010: “Ode à Velha Ponte”, onde comparava seu infortúnio ao dela: “Vivo, também, como tu, velho, doente, alquebrado”.
A mesma paixão à octogenária ponte pode ser observada no analista da Receita Estadual, Edson Murilo Prazeres, que batalha para reativar o Memorial da Secretaria de Estado da Fazenda, criado em setembro de 2002 por Esperidião Amin e extinto por Luiz Henrique da Silveira em março de 2003. “Estamos pagando hoje os erros do passado”, diz ele sobre a falta de conservação do monumento.
Memorial governo do Estado/ND
Em 1922, aparecia, imponente, a primeira torre da ponte no lado continental
Documentos históricos
Edson Murilo Prazeres guardou dezenas de documentos trazidos dos cofres do Tesouro Estadual ao longo dos anos, como uma histórica caderneta, que parece mais um caderno de telefones, assinada pelo então governador de Santa Catarina Hercílio Luz, onde assume o compromisso de pagar em 30 anos, com juros de 5% ao ano, o empréstimo contraído com a Halsey Stuart & Co. para a construção da ponte sobre o Estreito, vão entre a parte continental e a parte insular. Era 25 de fevereiro de 1924 e Hercílio Luz assinou com caneta-tinteiro, uma a uma, todas as 100 folhas da caderneta, de capa dura e preta, que continham os títulos públicos de números 5.467 a 5.566, equivalente a um conto de réis cada um. O total do contrato estabelecia o valor de 625:000 contos de réis.
Entusiasmado com os achados históricos, o analista começou a pesquisar mais. Vasculhando a coleção de mensagens dos governadores que comandaram o Estado em Florianópolis, no século 19 e início do século 20, digitalizada pela instituição canadense Center for Research Libraries (http://www.crl.edu/brazil/provincial/santa_catarina), e disponibilizada pelo Arquivo Público do Estado a qualquer cidadão, Prazeres descobriu que na cabeceira da ponte, onde hoje é o Parque da Luz, estava assentado o antigo cemitério da cidade.
Em 1927, reajuste do pedágio
Em uma mensagem, já com a ponte Hercílio Luz inaugurada, em 21 de agosto de 1926, o governador do Estado em exercício, coronel Antônio Vicente Bulcão Vianna, comenta a arrecadação com o pedágio da ponte, três meses após a abertura ao tráfego: “A renda do pedágio e de trânsito de veículos nos primeiros meses tem dado para fazer face ao cumprimento do contrato sem ônus para o Estado”.
Um ano mais tarde, em 1927, o governador indicado Adolpho Konder também presta contas do valor da tarifa recebida pelo governo. “Convém assinalar o aumento do pedágio da ponte Hercílio Luz, que em oito meses de 1926, teve a média mensal de 16:260 contos de réis, e no ano de 1927 a de 17:160 contos de réis”.
Campanha para arrecadar fundos
O primeiro doador da conta bancária aberta no dia 19 de abril, que irá receber os recursos para a restauração da ponte Hercílio Luz, via Lei Rouanet, foi o presidente da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), Joceli de Souza. Ele não quis informar o valor doado. “Prefiro não dizer. Importante é que fui o primeiro. R$ 1,00 ou R$ 1 milhão, não importa. Importante é colaborar. Ela (ponte) é nossa. Sou manezinho. É como se fosse minha também”, declarou.
Na verdade, a doação dele está servindo como modelo para que a fundação modernize a emissão dos recibos de mecenato. “Hoje o processo ainda é muito difícil”, explica Souza.
A previsão é de que até o final do mês o processo já esteja funcionando adequadamente. A FCC está elaborando um manual no site para que as pessoas entendam como podem doar. Os interessados devem ligar para a equipe técnica da FCC que receberá todas as instruções necessárias para o procedimento. O telefone é 3953-2300.
86 ANOS DE HISTÓRIA
Da construção à restauração
1922 – Construção é iniciada em 14 de novembro.
1924 – Morre o governador Hercílio Pedro da Luz em 20 de outubro, doze dias depois de inaugurar simbolicamente uma réplica de madeira na Praça 15 de Novembro.
1926 – A ponte é inaugurada no dia 13 de maio.
1967 – Desmorona a ponte Silver Bridge de Plesand, nos EUA, semelhante à Hercílio Luz; fato traz alerta aos catarinenses.
1982 - Foi descoberta uma trinca com cinco centímetros de abertura em um dos olhais das barras; travessia é interditada.
1988 – É reaberta somente ao tráfego de pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração animal.
1991 – É fechada novamente por completo.
1995 - Uma vistoria do DER-SC (Departamento de Estradas de Rodagem) conclui que as barras de olhais “apresentam em seu estado atual, grau de instabilidade e possibilidade de causar a queda abrupta da ponte”.
2004 – Obras de restauração começam a ser feitas.
2011 – Em maio é realizado o 3º Seminário sobre a Recuperação da Ponte Hercílio Luz; em novembro, o governo do Estado solicita autorização para captação de recursos através da Lei Rouanet.
2012 – Em março é aprovada projeto para captação de recursos através da Lei Rouanet; previsão de conclusão da restauração em maio é frustrada; entrega da obra é adiada para 2014.
Publicado em 12/05-20:26 por: Rodrigo Lima.
Atualizado em 13/05-23:27
Atualizado em 13/05-23:27
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