sábado, 21 de abril de 2012

UM RH ENTRE MÉDICOS E PACIENTES



Patrícia Bispo
Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap. Atuou durante dez anos em Assessoria Política, especificamente na Câmara Municipal do Recife e na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Atualmente, trabalha na Atodigital.com, sendo jornalista responsável pelos sites: www.rh.com.br, www.portodegalinhas.com.br e www.guiatamandare.com.br.

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Você já parou para imaginar como é o trabalho de um profissional de RH, na rede hospitalar? Quem conhece muito bem essa realidade é Nelson Alvarez, gerente de RH do Hospital e Maternidade São Luiz - uma organização criada em 1938 que dispõe de duas unidades hospitalares, uma no Itaim e a outra no Morumbi, em São Paulo. Mas não foi apenas em hospitais que ele conseguiu experiência para trabalhar em gestão de pessoas. Alvarez que é administrador de empresas, com especialização em RH, tem uma trajetória de 28 anos na área e passou por empresas como Philip Morris, McDonald's, Grupo Anglo American e Grupo Abril. Em entrevista ao RH.com.br, ele falou um pouco sobre o trabalho que desenvolve no dia-a-dia junto a aproximadamente 2.300 colaboradores, as peculiaridades da rede hospitalar e a experiência adquirida em organizações nacionais e multinacionais. Confira!

RH.com.br - Como o Sr. ingressou na área de RH e como foi seu trajeto profissional ao longo dos anos?
Nelson Alvarez - Há alguns anos recebi o convite para trabalhar numa pequena empresa e lá todos faziam de tudo e foi assim que tomei gosto pela área de Recursos Humanos. Minha carreira foi construída nas empresas Philip Morris, McDonald's, Grupo Anglo American, Grupo Abril e São Luiz. Tanto a Philip Morris quanto o McDonald's foram verdadeiras escolas, pois tive contato com dois segmentos bastante expressivos e, em um deles, praticamente ajudei a estruturar a empresa que estava instalando-se no Brasil. O desafio na Anglo American, por exemplo, era gerenciar a área de RH de três usinas, localizadas em Goiás e Minas Gerais, criando estrutura e serviços de RH em locais muito complicados. Em uma delas, dei suporte à gestão de uma vila operária com 400 casas, uma escola e um clube social, além de ter boa parte da diretoria do sindicato local como nossos funcionários. No Grupo Abril, fui contratado para implantar uma nova empresa, a TVA, sendo responsável pelo RH e a administração que incluía todos os serviços anexos.


RH - Quais as razões que o motivaram trabalhar na área de Recursos Humanos?
Nelson Alvarez - Inicialmente, atuei em administração de pessoal e fiquei especialista em implantar folha de pagamento. Como gosto de ter contato com pessoas, fui ocupando outros cargos dentro da área de RH que incluiu salários, recrutamento e seleção, até chegar à gerência da área no McDonald's, onde fui montar todo o departamento. Toda essa experiência me motivou a atuar na área.


RH - Caso o Sr. voltasse no tempo, continuaria atuando em RH ou escolheria outra área?
Nelson Alvarez - Sem dúvida escolheria RH, até porque hoje a área começa a ter maior reconhecimento e ser acionada em questões estratégicas, pois o empresário percebeu que as empresas existem por serem formadas por pessoas. As organizações que têm um trabalho bem próximo aos seus funcionários conseguem melhor produtividade e com isto satisfazem também seus acionistas. As pessoas passaram a ver de forma diferente seu trabalho e, hoje, estão buscando realização pessoal também, atentando bastante para a qualidade de vida.


RH - Quais os principais desafios que o profissional de RH enfrenta junto às empresas?
Nelson Alvarez - Pessoalmente, destacaria: sair da rotina e se envolver em questões de maior importância. O profissional de RH precisa conhecer o negócio e assim buscar soluções que possam impactar no resultado e contribuir para a fidelização do cliente. Não pode ficar simplesmente discutindo questões que hoje estão mais voltadas para o gestor de cada área - turnover, absenteísmo, treinamento - e sim estar atento às novas ferramentas de gestão de pessoas e buscar habilitar seus pares para que estes se desenvolvam junto com seus colaboradores. O RH, então, além de conhecer melhor o negócio, fica com maior sensibilidade para agir em questões institucionais.

RH - E especificamente em relação à rede hospitalar, quais os obstáculos que o RH precisa lidar diariamente?
Nelson Alvarez - O setor hospitalar está profissionalizando-se muito com o passar dos anos, já que tradicionalmente os hospitais - em sua grande maioria - são empresas de origem familiar. Esta gestão é algo muito peculiar do setor, por isso, exige algumas estratégias diferenciadas por parte do RH. Porém, sinto que há um movimento muito forte, na maioria das entidades hospitalares, no tocante ao trabalho da área de RH. Nós podemos contribuir para a melhoria do negócio - qualidade, envolvimento, desenvolvimento, novas técnicas. As pessoas que atuam nestas entidades, através do RH, também já perceberam uma oportunidade de melhorar seus conhecimentos em gestão de pessoas.


RH - Além da forte presença da origem familiar, a área hospitalar possui outras peculiaridades que a diferenciam, no que se refere ao trabalho voltado para as pessoas?
Nelson Alvarez - O segmento é bastante particular, pois trabalha com um produto muito complicado - a vida humana. As pessoas que atuam neste segmento precisam entender muito de gente, pois nosso cliente nos procura em momentos delicados de sua vida, pois querem uma solução para seu problema e nem sempre isto é possível. Há também a figura do médico, cuja formação não incluiu disciplina voltada para a gestão de pessoas.

RH - Essas peculiaridades da rede hospitalar podem significar problemas que dificultam a gestão de pessoas?
Nelson Alvarez - Sem dúvida, pois as pessoas são diferentes a cada dia, inclusive o cliente, e no nosso não é diferente. Temos três tipos de clientes - médico, paciente e acompanhante. O primeiro precisa que tudo esteja disponível, conforme seu pedido, e tem problemas com o tempo, pois atua em diversas frentes e possui uma rotina bastante complicada. O paciente, por sua vez, espera solução rápida e eficiente para o seu problema. Já o acompanhante é mais observador, exigente e crítico.


RH - Trabalhar em um hospital significa conviver diariamente com problemas que envolvem questões delicadas em relação à saúde humana e, consequentemente, isso pode influenciar o clima entre os colaboradores. Como o São Luiz trabalha essa questão?
Nelson Alvarez - Nosso trabalho é todo voltado para a descentralização da gestão de RH. As chefias foram habilitadas a avaliar o dia-a-dia de seu colaborador, interagindo com ele e buscando solucionar os problemas que possam surgir. Quando isto fica fora de controle, aciona-se o setor de RH, que funciona como consultor, para juntos buscarmos solução para o problema. Os colaboradores são treinados constantemente e a empresa trabalha com política de reconhecimento - dentro do processo de qualidade, implantando há mais de 10 anos - onde valorizamos novas idéias e fazemos o reconhecimento dos funcionários.


RH - Como a sua gestão monitora o clima interno
Nelson Alvarez - Conversando com os colaboradores, facilitando o processo da comunicação entre todos os setores e as chefias. Quando existem muitas dificuldades, procuramos atuar junto com os líderes para encontramos a melhor solução para o problema. O trabalho em equipe é fundamental. Temos ações voltadas para pontuar isto, como nossa festa de final de ano que é extremamente concorrida, pois nem todos podem participar - o hospital não pára, então nem todos os colaboradores podem ir à festa. Mas os que não participam já sabem que irão numa próxima oportunidade.


RH - Como anda a satisfação interna da organização?
Nelson Alvarez - Não temos ainda qualquer pesquisa que possa mensurar o índice de satisfação interna. Porém, cumprimos nosso papel como empresa, oferecendo os benefícios de praxe e estimulando o crescimento e o desenvolvimento dos nossos funcionários. A relação entre os profissionais é muito boa. Sempre temos informações da ajuda mútua entre alguns colegas que possam estar em dificuldades.


RH - Quais as principais ações que o Sr. destacaria da sua gestão?
Nelson Alvarez - Atuei no início muito fortemente para desmanchar feudos e acelerar a profissionalização da área de RH, visando buscar ferramentas agressivas de gestão e atuar mais perto da base. Busquei habilitar todas as chefias em técnicas para gerenciamento de pessoas, facilitando o relacionamento entre chefe e subordinado, inclusive no patamar de diretoria. Trouxemos programas para habilitar as pessoas a se tornarem melhores líderes - líder educador, formação de multiplicadores e coaching. Isto provocou uma mudança no perfil das pessoas, que passaram a entender o seu papel na liderança e desencadeou mudança na forma de trabalhar. Em alguns casos, estas chefias foram buscar mais qualificação, voltando às universidades.


RH - O Sr. pretende implantar novas ações no São Luiz ainda esse ano?
Nelson Alvarez - Estamos nos estruturando e buscando conhecimento para implantar avaliação de desempenho, não da forma tradicional. Queremos aliar as competências e as novas exigências que o mercado vem impondo aos profissionais e trazer isto às nossas chefias. Teremos um programa voltado para o gerenciamento de pessoas e crises, além de técnicas de negociação.


RH - Quais as suas expectativas para a área de RH junto ao ramo hospitalar?
Nelson Alvarez - A melhor possível, pois vemos várias entidades estruturando-se melhor, buscando profissionais de outros segmentos e discutindo a modernização em suas estruturas. Isto certamente impactará na melhoria dos serviços prestados, dos resultados e melhorará o segmento. As entidades que saírem na frente serão diferenciadas pelos clientes e terão resultados mais rápidos.


RH - Que conselhos o Sr. daria para o profissional de RH que deseja trabalhar ou que já atua na área hospitalar?
Nelson Alvarez - Para quem já está no segmento, não desistir facilmente frente aos desafios e às imposições do segmento. O profissional deve buscar especialização em gestão de pessoas e praticar muito network com outros colegas, inclusive de outros segmentos. Recomendo também participar de associações de RH, pois temos ali um grande laboratório onde podemos experimentar e conhecer novas técnicas. Para quem ainda não está no segmento, diria que venha com bastante vontade, não tenha medo de arregaçar as mangas, sendo bastante paciente e persistente.



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