sexta-feira, 20 de abril de 2012

"VADA A BORDO, CAZZO!"

Liderança: ‘Vada a bordo, cazzo!’


A frase “Vada a bordo, cazzo”, proferida pelo Comandante da Capitania do Porto de Livorno, Itália, Gregório Maria De Falco, ao capitão do navio que abandonou seu posto e afundou, Francesco Schettino, tornou-se um sucesso mundial.

Particularmente, eu ao ver o vídeo me arrepiei, e logo pensei: Isto sim é liderança.

O mundo carece de líderes e não é à toa que uma atitude como a de De Falco provocou tantas concordância efusivas.

Liderança é o tipo da coisa que todo mundo sabe reconhecer, mas muito poucos sabem definir. Eu diria que um bom líder é aquele que faz a coisa certa no momento certo. Portanto, liderança é sempre sintonizada ou adequada a um contexto/situação. Uma definição parecida com a de um herói: Aquele ser corajoso que faz o que é necessário fazer, assumindo todas as consequências dos seus atos.

E foi o que De Falco fez. Ao ouvir o áudio entre ele e Schettino, chamam bastante a atenção o tom de voz e o contexto. A frase que ficou famosa não foi falada em vão, ela faz parte de um todo e denota claramente outra característica da liderança: A firmeza assertiva. Aquela usada no tom certo que o momento exige.

Quando leio tratados acadêmicos de liderança, livros ou artigos sobre o tema normalmente me decepciono. Muitos (a maioria) ainda confundem liderança com gestão. Como se liderança tivesse relação com o organograma!

Claro que excelentes gestores precisam ser selecionados em função de suas características de liderança ou preparados por anos a fio para tal, antes de assumirem cargos nos quais a habilidade de liderança seja um requisito.

Li dois livros ótimos sobre este tema no qual há a clara diferenciação entre gestão e liderança: “Women and Leadership: A Contextual Perspective” de Karin Klenke (PhD) e “Leadership for the Twenty-First Century” de Joseph C. Rost. Infelizmente, nenhum deles foi traduzido para o português. Que critérios são usados para a tradução e venda para os livros de liderança no Brasil?

A habilidade de liderança não é apenas um conceito, portanto, só há um jeito de preparar líderes: Desenvolvendo-os. Preferencialmente através de laboratórios de liderança. Nestes laboratórios os futuros líderes, de qualquer área, trazem as situações que querem trabalhar em relação a seus liderados. Aliás, só existem líderes se há liderados. A liderança é sempre relacional.

Outra maneira de desenvolver líderes é através do “coaching”, mas com uma metodologia muito prática. Pensar que é um líder porque passou por um curso ou processo de “coaching” é bem diferente de agir como um. Liderança não é um exercício intelectual, mas sim atitudinal. Hoje tem um monte de gente que se acha líder porque participou de cursos e MBAs, mas que não tem a menor competência prática para tal. Desenvolver um líder requer que o coloquemos em situações que ele viverá, mas na prática, e não através de estudos de caso que são apenas mentais. Nós, psicólogos, sabemos que o fato de uma pessoa imaginar ou achar que agirá desta ou daquela maneira numa determinada situação não significa que ela o fará. Pensar não é sinônimo de agir.

De Falco agiu adequadamente e por sua atitude ganhou o aplauso do mundo. Tenho certeza que ele acredita que a liderança é uma virtude que todos deveriam cultivar. E foi exatamente isto o que ele cobrou de seu comandante incompetente, que não foi gestor, já que abandonou o navio (e o seu próprio papel profissional), e muito menos líder, pois não teve a atitude certa que o momento assim pedia. Pobres dos funcionários de Schettino e dos clientes do navio, eles naquela situação ficaram órfãos de um verdadeiro líder. A relação de um líder é sempre com os liderados, ou seja, com as pessoas, ao passo que a do comandante do navio é com o navio e seus processos.



Suely Pavan Zanella
www.pavandesenvolvimento.com.br
(55 11) 34777211 ou (55 11) 76774095
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